Prólogo
Eis o relato puro e simples de uma infância e mocidade afortunada com o carinho e amor de pais e parentes, se não fosse toldada com o desaparecimento um pouco prematuro de meu avô, seria toda prenhe de felicidades e venturas.
Descrevi minha Vitória intra-muros a curta rua terminando em nosso portão de entrada, vivendo em um casarão de 21 peças amplas e espaçosas e mais cerca de 600m2 de área livre plantada e ajardinada e por extensão a minha Vitória extra-muros como uma continuação deste paraíso com suas estreitas e curtas ruas em uma topografia deslumbrante emoldurada de altos morros e a cidade quedada como num berçário a suas faldas, seu povo generoso, hospitaleiro e amigo, suas manhãs plenas de luz e a sonolência de suas mansas tardes. As distâncias eram curtas e os trajetos davam para colher tudo em um amplo e generoso amplexo visual.
As distâncias maiores eram ganhas a bordo de confortáveis bondes até os arrabaldes mais distantes em visitas a amigos ou simplesmente em passeios por puro prazer de mudanças de cenário. Tudo isto contribuía para um viver tranqüilo sem os sobressaltos e temores dos dias atuais. Era o encanto viver em uma cidade de baixos índices demográficos, aonde o seu crescimento veio quebrar a pacatez e simplicidade da vida urbana trazendo em seu bojo os desajustes sociais.
Vitória era até então uma cidade de comerciários, estudantes e funcionários públicos estaduais e municipais, com uma população nos arrabaldes de gente simples e ordeira, onde o roubo e o crime eram ocorrências raras. A população de maioria católica era infensa a transgressões maiores e desvios de comportamento, por respeito às normas contidas na educação religiosa.Talvez por isto o quadro de delitos a época está descrito de maneira um tanto pitoresca nos “Dias Antigos” de Renato Pacheco atestando a índole pacífica e pacata de nosso povo, com a ocorrência de delitos de pouca monta em uma sociedade ciente de deveres com o próximo, patrulhando cada um o seu íntimo para um viver sadio em sociedade. É essa sociedade e a cidade em que vivi que irei tentar descrever em minha vivência de menino e rapaz, as mudanças ocorridas e os fatos mais dignos de monta isto é, as mudanças estruturais em seu crescimento e as transformações sociais daí advindas.
Começarei com “As Origens” como um pleito de gratidão aos meus maiores, pois deles brotou a minha vida. Sem ela eu aqui não estaria para um pleito de gratidão a Deus por ter nascido da família de que sou oriundo e ter a glória de ter vindo ao mundo em minha Vitória querida. Que esse seja o prólogo de minhas vivências aqui contidas.